1) Dean, existe algum jeito de usar o
"drive" sem prejudicar as pregas vocais?
A resposta curta seria
"não". Entretanto, sempre que você canta ou fala, você está usando e
exercitando suas pregas vocais, ou seja, estamos sempre causando alguma espécie
de dano à elas. Isso não é necessariamente uma coisa ruim. Quando estamos fazendo
exercícios físicos, de fato estamos “danificando”, “fissurando” e trabalhando
os músculos, que se recuperam por conta própria e se tornam mais fortes. Porém,
se trabalharmos os músculos além de seu limite, iremos distendê-los ou
danificá-los de modo que eles não irão se recuperar sozinhos, ou terão um tempo
de recuperação muito maior do que em condições ideais. No canto queremos ter
certeza de que não estamos abusando das nossas pregas vocais. Elas são
resistentes, mas também delicadas, e são as únicas que teremos até o
fim da vida, então é necessário protegê-las e tomar as devidas precauções.
Em um “mundo ideal” nós nunca
abusaríamos de nossas pregas vocais, porém, quando cantamos estilos muito
agressivos, nós estamos levando nossas cordas vocais ao seu limite. Portanto,
sempre devemos tentar cantar com uma boa técnica vocal, de modo que limitemos o
abuso o máximo possível. É importante também, lembrar de outras medidas que
ajudarão a proteger nossas cordas vocais e ajudá-las a se recuperar, como, por
exemplo, beber bastante água, aquecê-las e desaquecê-las. O mesmo acontece na
musculação, onde o tempo de recuperação do exercício é tão importante quanto o
exercício em si.
Ao cantar estilos mais agressivos, como o hard rock ou até mesmo o death metal, recomendo cantar utilizando “vocal fry”. Essa técnica deve ser usada nas notas mais baixas da sua extensão, apesar de que esse som pode ser utilizado também nas notas mais altas, onde se torna uma espécie de bolha entre as pregas vocais, de modo a soar de modo bem parecido com o fry. Desse modo é possível atingir uma sonoridade bem agressiva sem estressar demais as pregas vocais.
Um bom website para aprender mais
sobre este método é: www.melissacross.com/home.php.
Esse é o meu método preferido para obter uma sonoridade agressiva com o mínimo
de pressão possível sobre o trato vocal. Se você sentir que o “fry” não é
suficiente para a sonoridade que você quer, então você terá que ser extremamente
cuidadoso acerca dos cuidados na execução e recuperação da sua voz. Outro bom
artigo encontra-se em: http://www.wikihow.com/Do-Harsh-Death-Metal-Vocals
2) Existe um tempo mínimo/máximo para o aquecimento das cordas vocais
antes de cantar?
Não. Cada cantor e cada corpo é diferente, portanto é preciso encontrar
o que funciona melhor para você. Phil Collins costumava vocalizar por 45
minutos em uma sauna úmida antes de cada show. Pense em corredores
olímpicos, todos têm diferentes rotinas a serem seguidas antes de uma corrida.
Corredores de provas curtas (50m, 100m) têm treinamentos diferentes de
corredores de longa distância, pois as demandas musculares e os biotipos são diferentes
para cada tipo de prova.
O estilo, extensão e intensidade das
suas performances vão determinar o tipo de exercício e aquecimento a serem
realizados na sua rotina diária. Cantar uma única canção é bem diferente de
cantar por 3 horas seguidas. Cantar de forma agressiva ou suave também irão
influenciar no trabalho a ser desenvolvido. Novamente comparando com
corredores, na maioria das vezes, se um corredor tem uma prova no dia, ele irá
acordar cedo e fazer os seus exercícios, para então poder descansar até a hora
da prova, onde minutos antes irá fazer um leve aqueimento. É importante
lembrar-se que sempre que você exercita ou aquece sua voz, você deve começar
devagar e ir aumentando a intensidade à medida que seu corpo vai se aquecendo.
Então, tenha certeza de que você está aquecendo sua voz antes de uma
performance, e não a cansando.
Os maratonistas não correm 40km todos
os dias. Normalmente, a maioria deles irá correr 15 ou 18km e, em alguns dias
somente, 4 ou 5km. O que é mais importante é que eles estão fazendo isso todos
os dias. O mesmo acontece com levantadores de peso. Eles irão alternar séries
mais pesadas com séries mais leves, de modo que as pesadas hipertrofiam os
músculos e as mais leves alongam-nos.
No trabalho com a voz, a freqüência é
mais importante que a duração. É melhor fazer 10 minutos duas vezes ao dia do
que fazer 2 horas uma vez por semana. Freqüência e consistência são a
chave. Pessoalmente, eu gosto de aquecer a voz por 20 ou 30 minutos em
dias mais pesados em que eu não vou me apresentar. Em dias de apresentação eu
costumo fazer de 10 a 20 minutos de aquecimento por volta de 3 horas antes da
performance, para então, fazer mais 5 ou 10 minutos logo antes de me
apresentar. Cada cantor deve ter a percepção acerca de sua própria voz e
encontrar a rotina de trabalho que melhor se adéqua às suas necessidades.
Um último lembrete é o de que a
maioria dos cantores (e muitos corredores) esquecem de fazer um desaquecimento
depois de suas apresentações. Desaquecer, que se assemelha a um aquecimento
muito leve, é muito bom para ajudar o corpo a iniciar o processo de
recuperação.
É interessante saber que a água leva
por volta de 1 hora para trabalhar nas suas cordas vocais, ou seja, mesmo não
sendo uma má idéia beber água durante uma apresentação, ela não está ajudando
suas cordas vocais naquele exato momento. Para conseguir um efeito imediato, é
preciso inalar uma mistura para que ela vá imediatamente para as suas cordas
vocais.
3) É possível aumentar a extensão da voz através de exercícios?
Sim, com certeza. No meu caso em
particular, tenho uma musculatura muito rígida, de modo que costumo brincar
dizendo que devo ser 8 cm mais alto do que meus músculos e tendões. Ao me
curvar de pé, eu não consigo tocar o chão com minhas mãos sem flexionar os meus
joelhos, mas sei que se fizesse yoga ou qualquer outra prática que envolva
alongamento em uma base diária, eu seria capaz de fazê-lo. O mesmo acontece com
as cordas vocais. Alongamento e exercícios regulares irão adicionar força e
flexibilidade às cordas vocais, de modo que com uma maior flexibilidade
chega-se a um maior alcance.
As cordas vocais são similares a
elásticos de borracha. Se elas são elásticas, você conseguirá atingir notas
mais altas. Se elas são mais rijas, será muito mais difícil alcançar notas mais
altas, além de que a probabilidade de cometer abusos será bem maior.
Uma boa técnica vocal também irá
influenciar diretamente no seu alcance. Tem uma série de grupos musculares que
devem trabalhar juntos quando você canta, tal como os dentes de roda de uma
bicicleta. Com uma roda dentada maior na frente e uma menor atrás, ou
vice-versa, temos forças e intensidades distintas. A mesma lógica se aplica ao
funcionamento do aparelho vocal. Se a coordenação desses músculos está correta,
o cantor consegue adaptar a voz, ajustando os músculos para conseguir maior extensão
e potência. Você se cansaria muito mais utilizando somente uma marcha da
bicicleta o tempo todo. Você usa uma combinação mais leve para retas e uma
combinação mais pesada para subidas. Isso também acontece com a voz,
coordenando os músculos da maneira apropriada para causar menos fadiga e
rigidez e mais flexibilidade, controle e alcance, de modo a nos tornarmos
melhores cantores e obtermos melhores performances.